segunda-feira, 23 de agosto de 2010

Quem me dera agora eu tivesse um festival para cantar


Em uma crítica à indústria cultural, Chico Buarque e MPB4 interpretam "Roda Viva"
É curioso como quase 43 anos depois daquela noite de 30 de outubro de 1967, a final do III Festival da Record ainda repercute na cultura brasileira. O documentário “Uma noite em 67” de Renato Terra e Rodrigo Calil, investiga o que estava por trás da competição entre as seis músicas finalistas da competição, ocorrida no fervor da ditadura militar no país. Para Nelson Motta, crítico musical e jornalista entrevistado no filme, “é naquele momento que explode o tropicalismo, que racha a MPB, que Caetano e Gil se tornam ídolos instantâneos, que se confrontam as diversas correntes musicais e políticas da época”. Naquele momento, “Ponteio” (Edu Lobo), “Roda Viva” (Chico Buarque), “Domingo no Parque” (Gilberto Gil), “Alegria, alegria” (Caetano Veloso), “Maria, Carnaval e Cinzas” (Roberto Carlos) e “Beto Bom de Bola” (Sérgio Ricardo) representavam os embates políticos que eram travados na cena cultural, entre a juventude engajada, a liberação dos costumes e a despolitização acentuada com a consolidação da cultura de massas. Era música “jovem” e a música “brasileira”. A questão era: porque não uma “música jovem brasileira”?

De gola rolê e terno xadrez, Caetano comemora a "música jovem brasileira" cantando "Alegria Alegria"

Com um formato simples - entrevistas e imagens de arquivo - o documentário acerta ao ter uma proposta objetiva: retratar um acontecimento, dentro de seu contexto histórico. O diretor Ricardo Calil lembra o conselho de João Moreira Salles, produtor do filme pela Videofilmes : "se você quer fazer um filme sobre o correio, você faz o filme sobre uma carta". Graças à parceria com a Record Entrenimento, o filme traz cenas das entrevistas nos bastidores e as apresentações na íntegra e remasterizadas, transformando a sala de cinema no teatro Record daquela noite. É de se observar, no entanto, que apesar daquele festival envolver nomes como a apresentadora Cidinha Campos, a cantora Maria Medalha (intérprete junto a Edu Lobo na música vencedora "Ponteio"), Elis Regina e Nara Leão - que embora não tenham se apresentado naquela final foram importantes nomes da música brasileira-, nenhuma mulher é entrevistada no filme.


Edu Lobo e Maria Medalha comemoram o sucesso da música "Ponteio", em primeiro lugar no festival

O filme leva o espectador de volta a década de 1960, quando a Guerra Fria trazia o embate entre o modelo capitalista e o socialista e, acreditando-se próxima a um governo de esquerda, as bandeiras da juventude ganhavam ares de “revolução”. A chegada da ditadura militar em 64 foi um balde de água fria para os militantes que depositaram suas esperanças em ver o “povo” no poder. Por um lado, a repressão do governo fez calar aqueles que atrapalhavam os interesses do regime e, por outro, possibilitou a consolidação no país de uma indústria cultural nos moldes norte-americanos. Enquanto Roberto Carlos e a Jovem Guarda embalavam as tardes de domingo de grande parte da juventude daquela época, artistas considerados engajados, como Geraldo Vandré, Chico Buarque e Edu Lobo, intensificavam o processo de nacionalização e politização na chamada música popular. Porém, se alguns consideravam qualquer influência cultural estrangeira uma ameaça à resistência ao regime militas, os baianos mostraram no Rio de Janeiro que a sociedade poderia ser um pouco mais complexa, misturando berimbau com guitarras elétricas e propondo um estilo musical que deu novos rumos à música brasileira naquele momento.


No festival, Roberto Carlos deixa o estilo Jovem Guarda de lado e apresenta o samba "Maria, Carnaval e Cinzas"

Sem grandes pretensões de ser um marco “político, musical, histórico, transcendental”, segundo o diretor da Record Paulinho Machado de Carvalho, e tomar a proporção que tomou, os festivais tinham naquela época um papel semelhante ao da novela nos dias de hoje. Com a chegada da televisão no país, o conteúdo do rádio começava a migrar para o formato audiovisual e os festivais se tornaram importantes vitrines para músicos como Elis Regina, Jair Rodrigues, Tim Maia, Nara Leão, entre muitos outros. No filme, Paulinho Machado conta que sua preocupação era “fazer o festival dar certo, em termos de produção”, em meio a ânimos tão exaltados. Entre as pérolas do festival (e do filme), está a cena em que Sérgio Ricardo, revoltado com as vaias que o impediam de cantar, quebra o violão no palco e o atira na platéia, sendo desclassificado em seguida. Em entrevista nos bastidores, Roberto Carlos brinca: “Ponteio (música vencedora, que tinha como refrão "quem me dera agora eu tivesse uma viola pra cantar") foidesclassificado porque não tem mais viola pra cantar: O Sergio Ricardo quebrou”.


Sergio Ricardo se revolta contra as vaias da platéia e quebra o violão

As vaias tinham cadeira cativa nas apresentações. Para a jornalista Ana Paula Sousa, da Folha de São Paulo, era um Brasil que, “calado pela ditadura, parecia disposto a vaiar quem quer que fosse, de Roberto Carlos a Caetano Veloso”. As disputas políticas em torno da música popular brasileira eram refletidas no palco e principalmente na plateia organizada, que dava ares de final de Copa do Mundo à competição. A própria organização do festival e a seleção dos finalistas lembrava ringues de batalha entre “personagens”: Chico Buarque, o mocinho; Roberto Carlos, o galã; Edu Lobo, o politizado; Caetano e Gil, os baderneiros. Zuza Homem de Mello, técnico de som da Record no festival e consultor do filme, conta que “a plateia estava a fim de destruir as músicas de que não gostava, muitas vezes por razões políticas. Era um tipo de fanatismo que nunca tínhamos visto em um festival”.


A guitarra elétrica e o visual despojado de Gilberto Gil e os Mutantes em "Domingo no PArque" levam o segundo lugar no festival e sugerem novos rumos para a música popular brasileira

Nos dias de hoje, sem iminência da repressão militar e com novela de sobra na televisão, ouvimos muitas vezes o discurso de que “não se faz mais política e cultura como antigamente”. No entanto, com as possibilidades de produção e circulação cultural ampliadas pelas novas tecnologias, observa-se o contrário: uma enorme proliferação de artistas independentes, por vezes não menos qualificados, realizando seus trabalhos sem espaço na mídia comercial, que ainda mantém formatos semelhantes aos de quarenta anos atrás. É preciso atualizar também os conceitos de cultura e política para enxergar as novas formas de organização da juventude. Como propõe Gilberto Gil em entrevista no filme, é preciso “misturar as sementes para ver no que dá”.


Por Aline Carvalho




Publicado também em:

Revista História da Biblioteca Nacional

Portal da UNE

Tropicaline

sexta-feira, 13 de agosto de 2010

CUCA realiza debate


O CUCA da UNE realiza no dia 17 de agosto, uma roda de conversa com o tema O Estado de Baixo para cima, a construção de políticas públicas.


Na mesa, os convidados Célio Turino, historiador e criador do Ponto de Cultura, um programa de política pública que está sendo implantado no Brasil e estudado por universidades de todo o mundo e José Renato de Campos Araújo, criador e coordenador do curso de Gestão de políticas públicas. É professor da EACH - Escola de Artes, Ciências e Humanidades da USP.

O objetivo do debate é contextualizar a cultura e a zona de aproximação existente entre as dimensões da universidade pública e da gestão pública, identificando o fator complementar existente entre os papéis desempenhados por cada uma destas estruturas. A política como mediadora da relação entre estas instituições e o desafio do empreendimento de uma nova cultura política.

A roda de conversa acontece dia 17, no audiotório vermelho da EACH, na USP Leste.

Inscreva-se

Para mais informações, fale com Eleonora - 11- 6672-9032 e Vanessa - 11-9958-7120

sexta-feira, 6 de agosto de 2010

PIAdores no Cariri

participação de artistas de diversos estados brasileiros.

O Coletivo Camaradas realiza entre os dias 17 e 21 de agosto o encontro dos PIAdores no Cariri – “A Cidade Não Pára”. O objetivo é conceder mais força à formação de artistas e desenvolver vivências na cidade. Como público alvo estão focados os jovens das zonas periféricas de Crato. Por meio de uma programação ampla que perpassa intervenções urbanas, oficinas, debates, exibição de vídeos, shows e troca de acervos artísticos dos coletivos, os processos de fazer e pensar artísticos serão postos em cheque.

Para participar

As inscrições poderão ser realizadas no CCBNB e na PROEX da URCA, ou nas escolas públicas parceiras. O número de vagas por manifestações ofertadas é limitado.
Evento: encontro dos PIAdores no Cariri – “A Cidade Não Pára”
Data: 17 a 21 de agosto
Horário e local: ver programação



O que é o Encontro dos PIAdores no Cariri?

A Cidade não Para - Encontro dos Piadores no Cariri - O Coletivo Camaradas promove, dentro da programação do IV BNB Agosto das Artes, o 1º encontro do PIA (Programa de Interferência Ambiental) no Cariri. O PIA é uma plataforma de artistas contemporâneos que agrega integrantes de diferentes coletivos do Brasil. O Encontro constará de intervenções urbanas, vivências, oficinas, debates, exibição de vídeos, shows e troca de acervos artísticos dos coletivos.

Oficinas

PARADO EM MOVIMENTO

Ação-grafite-vídeo-pintura
Ministrante: Tales Bedeschi –MG
Vagas: 10
A oficina-ação que resgata o processo criativo do sul-africano Willian Kentridge e as ações do coletivo BLU. A proposta é resgatar personagens e condições de produção local para criação de um repertório imagético que vai dar origem a uma animação em stop-motion. A animação nada mais é que o registro fotográfico da formação de uma pintura em um painel, que, na verdade, será um muro da cidade.
Dias: 18 a 20 de agosto 2010.
Horário: 8h00m às 11h00m
Local: Teatro Raquel de Queiroz


INTERVENÇÃO/ OFICINA - AÇÃO DE CINEMA
Ministrantes: Renata Nascimento e Cauê Rocha – BA
Vagas:10
Ação de cinema é uma intervenção que converte espaços vários em local de exibição de filmes buscando resgatar a experiência coletiva de ir ao cinema como exercício coletivo de convivência, não apenas no ato de ver o filme, mas das conversas pós filme, da possibilidade de compartilhar histórias pessoais.
A oficina é parte preparatória para a Ação, em quatro dias os participantes vão experimentar o fazer cinematográfico de forma simples e objetiva produzindo um pequeno trailler da vida, e das histórias da comunidade ou local escolhido, segundo suas próprias perspectivas. No quarto e último dia será realizada a “Ação de Cinema” onde será apresentado algum curta metragem e o trailler produzido na oficina
Dias: 18 a 20 de agosto 2010.
Horário: 8h00m às 11h00m
Local: Teatro Raquel de Queiroz

PINTURA EM LENÇÓIS
Ministrantes: Kamila Souza e Angélica Gadelha – Fortaleza/CE
Vagas: 30
Utilizando meios de psicologia transpessoal na vivencia conjunta da prática da pintura como meio de facilitar a fluência de idéias, de palavras metamorfoseadas em meio as cores e as formas que para cada ser presente, para cada olhar, identifiquem suas formas de sentir e identificar o que há na cidade. O que há em termos de sentimento perante o espaço físico e nele introduzir o produto final: Os lençóis pintados.
Dias: 18 a 20 de agosto 2010.
Horário: 8h00m às 11h00m
Local: Teatro Raquel de Queiroz

STENCIL
Ministrante: Amanda Priscila – Crato/CE
Vagas: 15
A oficina visa discutir a possibilidade do fazer artístico no espaço urbano, através do stencil. Técnica de reprodução de imagens a partir do reaproveitamento de Radiografias, a qual poder ser utilizada em vários suportes com camisas e paredes.
Dias: 18 a 20 de agosto de 2010
Horário: 8h00mim às 11h00min
Local: Centro Cultural do Araripe

CRIPTOGRAFIA
Ministrante: Tatá Nascimento – SP
Vagas: 20
A criptografia trabalha com códigos ou linguagens para inventar maneiras diferentes de combinar códigos para gerar mensagens secretas. De forma lúdica Tatá Nascimento abordará nesta oficina possibilidades de se criar imagens a partir de combinações.
Dias: 18 a 20 de agosto 2010.
Horário: 8h00m às 11h00m
Local: Teatro Raquel de Queiroz

CADERNOS DE REGISTROS
Ministrante: Gabriela Monteiro – RJ
Vagas: 10
Na oficina Cadernos de Registro os participantes são convidados a criar seus próprios cadernos. Aprenderão uma das técnicas da encadernação tradicional para criar um instrumento que permitirá brincar com a memória, o mundo onde vivem e seus saberes. Além do aprendizado da técnica da encadernação os participantes serão convidados a fazer uso do caderno produzido como um instrumento de registro de suas realidades e sonhos, numa busca por despertar e desenvolver o processo criativo de cada um.
Dias: 18 a 20 de agosto 2010.
Horário: 8h00min às 11h00min
Local: Teatro Raquel de Queiroz

CORPOS D´ÁGUA (Nascente do Crato)
Ministrante: Floriana Brayner - SP
Vagas: 30
Os participantes serão convidados a imergir num processo de investigação-ação sobre os corpos d’água de sua região, ou seja nascentes, córregos e rios. Uma bússola mágica guiará o grupo, servindo de plataforma de lançamento de proposições e sistematização do processo. Dinâmicas de sensibilização e integração do grupo, aliados a estudos de campo e compartilhamento de repertório compõe o processo que culminará na criação de uma intervenção coletiva.
Dia: 18 de agosto de2010
Horário: 13h00min às 18h30min
Local: Balneário da Nascente

GRAFITE
Ministrante: Marlon Torres Crato/CE
Vagas: 15
A partir da reflexão da temática do Encontro “A cidade não pára”, os participantes se aproximarão desta técnica artística que utiliza as paredes das cidades como uma grande galeria aberta ao público.
Dias: 18 a 20 de agosto de 2010.
Horário: 14h00min às 16h30
Local: Centro Cultural do Araripe

Intervenções Urbanas
Dias: 17 a 21 de agosto de 2010.
Momentos inusitados poderão ocorrer na cidade Crato. Durante todos os dias estarão sendo realizadas intervenções urbanas individuais e coletivas, algumas como resultado das oficinas.

Mostra de Vídeos

A Praça Prefeitura do Crato receberá telão para exibição de vídeos e filmes dos coletivos ligados ao PIA e produções de artistas do Cariri.
Dias: 18 e 19 de agosto de 2010.
Horário: 20h00min
Local: Praça da Prefeitura

Seminário do CUCA Cariri
O seminário visa aglutinar acadêmicos e artistas para fortalecer o Centro Universitário de Cultura e Arte – CUCA Cariri e para preparação da caravana do Cariri à Bienal da UNE que pela primeira vez será no Ceará em de 2011.
Dia: 20 de agosto de 2010
Horário: 14h00min às 17h00
Local: Salão de Atos da URCA

Roda de conversa : Arte e Cidade
A cidade não Pára será o mote da roda de conversa que visa discutir o espaço urbano como possibilidade de reflexão estética e social, a partir das experiências dos artistas Tales Bedeshi – MG, Floryana Brayner – SP, Gabriela Monteiro RJ e Alexandre Lucas – CE
Dia: 20 de agosto de 2010.
Horário: 19h00 às 21h00
Local: Auditório do Centro Cultural do Banco do Nordeste

Grande Festa de Encerramento
Lançamento da Bienal da UNE no Cariri
Os artistas e grupos musicais ocuparam o bairro mais populoso e operário da cidade do Crato, o bairro Seminário para fazer uma grande festa popular com a alegria e a diversidade musical do nosso povo com a participação da Tambozada - Grupo de Cortejo Coletivo Camaradas, Grupo de Dança do Projeto Nova Vida,Grupo de Hip Hop Superação, MC Albeniso, Quarto Estágio, Fatinha Gomes, Liberdade e Raiz.

Casa Atelier
Casa localizada na Rua Cel. Luiz Teixeira, 1208 – Centro –Crato, que servirá para alojar os artistas e será um dos espaços para vivências e troca de experiências estética/artísticas durante o Encontro.

Realização:
Coletivo Camaradas/PIA
Acesso Grátis:
www.coletivocamaradas.blogspot.com
www.piabrasil.wordpress.com
Mais informações
Alexandre Lucas (88)99772082
coletivocamaradas@gmail.com

Parcerias:
CCBNB
Secretaria de Esporte e Juventude de Juazeiro do Norte
Secrataria da Cultura, Esporte e Juventude do Crato
SESC
Sociedade de Cultura Artistica doCrato
PROEX/URCA
Sociedade Cariri das Artes
Companhia Cearense de Teatro Brincante
Projeto Nova Vida
CUCA Carirri
CUCA da UNE

quinta-feira, 5 de agosto de 2010

Sites com obras gratuitas

A internet colocou ao alcance dos dedos de 54 milhões de brasileiros acervos preciosos que estavam restritos a baús de parentes, arquivos de empresas, bibliotecas de instituições ou a gavetas do Estado. Na última década, movidas por vários interesses, entre eles a democratização do conhecimento, entidades públicas e privadas digitalizaram seus patrimônios culturais e permitiram ao público acesso a documentos, fotografias, músicas, livros e filmes de forma segura (para o internauta) e dentro da lei, respeitando os direitos autorais de seus autores.
Bens históricos ou pitorescos estão nessas prateleiras virtuais. É o caso das imagens do Brasil de 1800 capturadas pela lente do fotógrafo Marc Ferrez, cuja obra faz parte do acervo do Instituto Moreira Salles (IMS), guardião de mais de 600 mil imagens fotográficas, 5 mil delas já disponibilizadas na rede mundial de computadores. Ou das fichas, antes secretas, da época da ditadura sobre as supostas atividades subversivas do cineasta Glauber Rocha, um dos ícones do Cinema Novo, morto em 1981.

A digitalização de acervos é um dos principais instrumentos para que o acesso democrático à informação de fato ocorra. No entanto, a Lei de Direitos Autorais (nº 9.610/98) vai na contramão desse movimento. O site tempoglauber.com.br, comandado pela mãe do cineasta, dona Lúcia Rocha, de 92 anos, oferece uma série de informações, como a biografia, a filmografia, contextualizadas historicamente, além de documentos, fotos e anotações íntimas. Mas, devido à atual lei autoral, evita disponibilizar filmes dele na internet. Por isso, quem quiser assistir aos premiados Deus e o diabo na terra do sol ou Terra em transe, precisa ir à sede da instituição, um casarão antigo que fica em Botafogo, bairro carioca onde viveu e morreu Glauber, aos 42 anos.
Mas há sites de fácil acesso a obras livres da cobrança de direitos autorais, como o dominiopublico.gov.br, vinculado ao Ministério da Cultura. São mais de 130 mil opções, como toda a obra de Machado de Assis.

“A população está diante de uma imensa estante de livros. Estamos realmente caminhando bem em relação à digitalização de acervos. Mas isso faz o povo ser mais instruído? Não!”, argumenta o professor Gilberto Lacerda Santos, especialista em tecnologia na educação da Universidade de Brasília (UnB), para quem falta à população saber buscar e utilizar a informação de forma pertinente.

De acordo com ele, a democratização do acesso só ocorrerá depois que o país tiver leitores qualificados e conscientes. Para isso, o especialista aponta a escola como fator fundamental nessa inclusão. “Só com uma escola de qualidade teremos informação transformada em conhecimento”, destaca.

O perfil do usuário da rede mundial de computadores reforça a análise feita por Gilberto Santos. Revelando a disparidade entre aqueles que têm acesso ao mundo digital e seus excluídos, pesquisas apontam que mais da metade da população brasileira (60%) nunca surfou na net. Somente 17% das classes D e E tiveram acesso a um computador nos últimos três meses, segundo dados da mais recente Pesquisa TIC Domicílios, feita pelo Centro de Estudos sobre Tecnologia da Informação e Comunicação (Cetic). Dados que contrastam com o número de internautas das classes A e B com acesso à rede mundial de computadores: quase 70%.
Responsável pelo Mapa da Inclusão Digital de 2009, elaborado pelo Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia (Ibict), a pesquisadora Anaísa Gaspar admite que ainda há muito a fazer. “Colocamos o Brasil científico na rede, mas falta atingir a parcela da população que
está à margem desse processo”, diz.

De acordo com o levantamento, há apenas 21 mil pontos de inclusão digital (em escolas, por exemplo) em todo o país. “É muito pouco”, reconhece. E para evitar que as mudanças de governo prejudiquem o avanço dos projetos, ela sugere que órgãos e programas públicos trabalhem ao lado da iniciativa privada. É o caso do projeto Curta na Escola, braço social do site Porta Curtas.
O projeto fornece 270 curtas-metragens considerados de conteúdo pedagógico a 19 mil escolas cadastradas no site portacurtas.com.br, que é de iniciativa privada, mas tem patrocínio da Petrobras. Em apenas dois anos, esses filmes foram vistos on-line por mais de 10 milhões de alunos em salas de aula, fortalecendo o material didático de milhares de professores da rede pública de ensino e permitindo que esses jovens de norte a sul do país conheçam um pouco da sétima arte. O site tem mais de 8 mil filmes cadastrados.

Mudanças à vista
Os direitos autorais protegem as criações intelectuais, expressas por quaisquer meios e em quaisquer suportes. Estão nesse contexto obras literárias, artísticas e científicas. Entre os beneficiados pelos direitos autorais estão compositores, músicos, escritores, tradutores, cineastas, arquitetos, escultores, pintores, e outros.
Há dois anos, o Ministério da Cultura vem tentando elaborar um texto novo visando atualizar a lei que trata dos direitos autorais (nº 9.610/98). O texto está disponível para consulta e crítica públicas. Dentre as regras que podem sofrer alteração há desde a descriminalização da xerox de livros até a possibilidade de acervos públicos poderem disponibilizar obras para fins educacionais. Artistas contrários à mudança da lei avaliam que os artigos propostos pelo governo flexibilizam demais os direitos, colocando em risco a sobrevivência de quem vive apenas dos direitos de sua obra – caso, por exemplo, de compositores que não fazem shows.


Sites que divulgam seus acervos


www.tempoglauber.com.br
» Foi chamado de tempo e não templo em uma homenagem à obra do cineasta, que seria imune a ele. Lá estão a biografia, a filmografia, contextualizadas historicamente, além de documentos, fotos e anotações íntimas.

www.ims.com.br

» Hospedado no Uol, o site dos Instituto Moreira Salles agrada principalmente quem se interessa por fotografias (há 5 mil imagens digitalizadas) e literatura.

www.portacurtas.com.br

» Site com mais de 8 mil curtas-metragens.

www.dominiopublico.gov.br

» São mais de 130 mil obras — em som, imagem, texto e vídeo — livres de direitos autorais. Entre eles, toda a obra de Machado de Assis.

prossiga.ibict.br/bibliotecas/

» Lá você acessa os repositórios digitais de várias universidades públicas do país e bibliotecas virtuais sobre diversos temas, entre eles artes cênicas e literatura.

aplauso.imprensaoficial.com.br

» Somente da coleção Aplauso, são 174 obras, entre biografias, roteiros e histórias da TV brasileira. Outros livros também estão disponíveis no acervo digital da editora, como Retratos da Leitura, livro que reúne dados e artigos sobre os hábitos de leitura do brasileiro, coordenado pelo jornalista Galeno Amorim.

Confira o anteprojeto da nova Lei do Direito autoral no site: www.cultura.gov.br/consultadireitoautoral
Para enviar propostas, o e-mail é: direitoautoral@planalto.gov.br

Publicado originalmente no Correio Braziliense Online, por
Regina Bandeira
(30/7/2010)