CARTA AO MEU AMIGO CÉLIO
Quando nasci, ganhei do meu avô Julinho, pessoa com quem convivi pouco, um verso que ele mesmo fizera. Não me recordo agora, mas acho que tenho guardado na casa da minha mãe. Meu avô, casado com uma japonesa linda, a Beninha, foi barbeiro a vida toda. Mas gostava mesmo é de tocar chorinho. As poucas vezes que fui a sua barbearia, em Mogi das Cruzes, ficava envolvida na leveza e no espírito comemorativo dele e dos amigos. Era um espaço pequeno, com azulejos em todas as paredes, uma cadeira no centro e um sofá vermelho, e tinham também umas banquetas de madeira para o grupo de choro. Lembro que meu avô dizia: por hoje chega de cortar cabelo! Vamos fazer uma festa para as minhas netas Vanessa e Alessandra... e ficava horas, eu ia embora e eles continuavam. Talvez essa barbearia seja o ponto de encontro mais antigo que minha memória reconheça.
No dia em que entrei para o CUCA da UNE e para o universo dos Pontos de Cultura meu avô morreu, mas coincidência mais bonita ainda estaria por vir... A barbearia do seu Julinho, no bairro de Xangai, essa mesma que tinha um dia da semana que não abria para cortar cabelo, porque era o dia do chorinho, os amigos chegavam, compravam cerveja numa padaria ao lado e celebravam a vida, essa barbearia não existe mais, não dessa forma. Pois bem... eis que surge em Brasília um secretário de chapéu e com seu jeitinho brasileiro percebe uma sabedoria vinda da fina lâmina de uma navalha com o doce som das cordas de um violão e possibilita que essa história seja reconhecida como um Ponto de Cultura.
Meu amigo, esse é um dos motivos por que voto no 6513 e essa é a parte que você não conhecia da minha relação com o Cultura Viva. Deixei pra contar num momento especial. Especial porque a sensação de participar da construção do movimento Brasil Vivo se traduz assim. Por trás dessa história existe uma idéia e as idéias podem ser à prova do tempo.
Um beijo
Vanessa Stropp
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