segunda-feira, 7 de dezembro de 2009

A arte entranhada na vida



por Alexandre Lucas

O centro de gravitação da arte é a realidade circundante, a qual deve ser percebida e compreendida para própria assimilação do trabalho artístico. Isso impõe pensar/repensar a relação entre artista/obra/público e o papel social do artista.

Na dinâmica do nosso tempo, temos que considerar que é urgente a necessidade de evidenciar que o artista difere do operador de técnicas, bem como do possuidor de genialidades, apesar deste conceito perpassar como verdadeiro para alguns.

Claro que no seu processo de trabalho, o artista necessitará muitas vezes dominar técnicas. Mas a arte é um conjunto de fatores que reúne condições objetivas de realização, conhecimento técnico/empírico e visões sociais de mundo que são resultados dos embates entre campo das ideais e o mundo material.

Esse conjunto de fatores nos coloca diante de uma construção que só pode ocorrer na relação direta entre artista e meio social numa concatenação dialética, em que o artista/obra/público se fazem e se refazem mutuamente. Numa espécie de: artista faz a obra e a obra faz o artista e no meio do caminho sempre tem o público, não necessariamente nesta ordem.

Para o artista na contemporaneidade reconhecer o seu papel social/político é fator indispensável para apropriação e democratização da arte, pois possibilita reconhecer também que a ação artística ou a obra de arte é resultado exclusivamente da produção humana e isso cria um viés de encurtamento entre as pessoas, as realidades sócio-culturais e as artes.

Desta forma, vale ressaltar que o artista deve transitar no mergulho na realidade, para absorvê-la e por outro lado transformar a idéia / matéria em forma, o que exige domínio. Esses são ingredientes para que a ação artística ou a obra de arte tenham as características e a reflexão do seu tempo, da sua classe e do seu povo.

Ora, isso só é possível quando o artista passa a compreender que a práxis artística é argamassa para edificação da arte e aniquilar a falsa idéia de que a arte brota por si só. É tempo de desabrigar os ateliers e os espaços de processo criativo do isolamento e povoar-los de e pela vida desta forma estaremos contribuindo para que a arte cumpra sua função social, ou seja, criando as condições para que arte faça parte da vida e vice-versa num reencontro essencial para emancipação humana.

Coordenador do Coletivo do Coletivo Camaradas, pedagogo e artista/educador

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