CUCA NA CARAVANA

Entrevista: Alexandre Santini

Alexandre Santini é o atual Coordenador Geral do Instituto CUCA, parceiro da União Nacional dos Estudantes, que atuará na Caravana da UNE - Saúde, Educação e Cultura afim de levar a célula cultural de volta à Universidade, mostrando que não há projeto para o Brasil que não passe, necessariamente, pela Cultura. O CUCA se dedicará também a articular uma rede cultural sólida entre os Pontos de Cultura, Comunidades e Universidades durante os quatro meses de Estrada. Abaixo, Santini - como é conhecido - nos fala um pouco sobre a idéia do CUCA e qual será sua atuação no projeto nacional.

1.Qual é a importância de um projeto como a Caravana da UNE - Saúde, Educação e Cultura para o CUCA e para os estudantes de forma geral?

Alexandre Santini: A caravana é um momento histórico para a UNE e para o movimento estudantil brasileiro, assim como para o CUCA. Será uma excelente oportunidade para a consolidação e o fortalecimento dos CUCAs que já existem, bem como para a formação de novos núcleos, com o objetivo de estruturar o Circuito Universitário de Cultura e Arte nos 27 estados do país. (Atualmente, o CUCA está presente em 16 estados brasileiros).Além disso, junto com a Caravana, o CUCA fará o lançamento do Pontão de Cultura, projeto que acontecerá em 13 estados promovendo intervenções culturais, apresentações e oficinas protagonizadas pelos Pontos de Cultura do Brasil nas universidades públicas. Tudo isso será viabilizado por uma rede de agentes culturais que irá articular os Pontos de Cultura dos estados, além de realizar todo registro audiovisual das atividades.O CUCA irá promover também encontros entre os movimentos culturais e os pontos de cultura de cada estado, com o objetivo de colocar em pauta um projeto cultural para o Brasil e novos modelos de financiamento e circulação da produção cultural brasileira.

2.Como principal rede cultural estudantil organizada, o que o instituto pretende levar para as universidades ao percorrer todos os estados do país? Qual a mensagem que o CUCA quer transmitir?

AS: A universidade precisa se pintar com as cores do povo, superando a separação ideológica entre os saberes "eruditos" e "populares". Uma universidade que pense um projeto para o Brasil é muito mais do que um "escolão" de formação de profissionais especializados para alimentar o mercado de trabalho. O CUCA tem a ambição de contribuir para que a universidade brasileira retome o seu papel histórico de centro vivo de pensamento, discussão e produção cultural e intelectual.Neste sentido, ao convidar os Pontos de Cultura para "pintarem" as universidades com as cores que quiserem, o CUCA pretende abrir o diálogo entre produção cultural, intelectual e científica das universidades e os saberes e fazeres das comunidades locais e do povo brasileiro.

3.Quais são as bandeiras levantadas pelo CUCA da UNE no que diz respeito às políticas públicas para a cultura no Brasil?

AS: É preciso rediscutir profundamente o modelo de financiamento público à cultura no Brasil. Em que pese a concepção bastante avançada que orienta diversos programas e ações do Ministério da Cultura durante a gestão de Lula e Gil, a questão econômica é ainda um grande entrave a ser superado em nossa política cultural. Os mecanismos de fomento à cultura baseado nas leis de incentivo e renúncia fiscal, que são uma herança maldita dos governos neoliberais do PSDB/PFL, empurram para o mercado a responsabilidade e orientação sobre como e onde serão aplicados os recursos públicos. O resultado é um modelo de financiamento injusto e concentrador, onde 80% dos recursos são aplicados no eixo Rio-São Paulo e os principais captadores deste dinheiro são as instituições culturais ligadas ao sistema financeiro e aos grandes meios de comunicação, como a Fundação Bradesco, Itaú Cultural, Fundação Roberto Marinho e por aí vai...Queremos um novo modelo de financiamento público para a cultura, gerido com a participação da sociedade, republicano, democrático e federalista. Este modelo já foi desenhado, é o Sistema Nacional de Cultura, que ainda precisa ser efetivamente implementado no país. Queremos a aprovação pelo Congresso Nacional da PEC da Cultura, que destine no mínimo 2% do PIB para a área cultural, recurso que deve ser distribuído com equilíbrio regional a partir de editais com participação e controle da sociedade civil. O movimento estudantil precisa compreender a assumir como suas estas bandeiras, defendendo-as nas ruas, junto com a sua pauta política e educacional. A caravana será um momento importante para travarmos este debate nas universidades.

4.Qual é o principal objetivo cultural de um projeto nacional como a Caravana, do ponto de vista prático?

AS: Resgatar a idéia de Universidade enquanto local privilegiado para o pensamento, para a inquietação e reflexão e para a ação cultural, artística e intelectual. Hoje, o estudante universitário sofre uma tremenda pressão familiar para que "saia" da universidade com o diploma o mais rápido possível a fim de se inserir no Mercado o quanto antes. Isso fez com que o papel de ambiente privilegado para a produção e reflexão que a universidade deveria cumprir na vida cultural brasileira fosse se esvaziando gradativamente. É uma situação lamentável, pois é durante a vida universitária que o jovem está formando a sua consciência política, social e cultural. A caravana da UNE, nesta bela missão de percorrer todo o Brasil, traz em sua bagagem um pouco deste espírito rebelde, aventureiro e itinerante que infelizmente está ausente das Universidades no Brasil atualmente . Além disso, ao promover um conjunto de atividades culturais, espera-se que a caravana lance sementes, no sentido de fortalecer e incentivar projetos e iniciativas culturais novas ou já existentes em cada lugar que vá passando.

5.Em qual sentido a Caravana deve incentivar a articulação entre a rede de Pontos de Cultura?

AS: O objetivo do Pontão de Cultura do CUCA da UNE, que será lançado durante a caravana, é justamente o de promover uma articulação permanente entre os pontos de cultura e as universidades. Além disso, a Caravana irá realizar apresentações de pontos de cultura em todas as universidades como parte de sua programação, o que vai nos permitir uma maior aproximação e interação com esta rede.

6.Qual a importância dos Pontos de Cultura no contexto atual da produção cultural?

AS: Os Pontos de Cultura são o fato político mais importante da vida cultural brasileira nas últimas décadas. A partir da "provocação" do estado, uma rede horizontal e nacionalmente distribuída de grupos e iniciativas culturais vem se organizando e se reconhcendo enquanto um movimento social que atua no sentido de fortalecer a autonomia e o protagonismo cultural do povo brasileiro. Os Pontos de Cultura são hoje uma importante força política que , ao lado dos movimentos sociais, compreendem que um projeto nacional de desenvolvimento para o Brasil passa necessariamente pela cultura.

7.Como os CUCAs se tornaram Pontos de Cultura?

AS: Através de editais públicos, os CUCAs de 10 estados foram conveniados com o MinC como Pontos de Cultura. Com o edital para Pontões de Cultura publicado em 2007, mais uma vez um projeto do CUCA foi aprovado, agora com o objetivo de articular a rede cultural estudantil em 13 estados em diálogo com Pontos de Cultura e comunidades.Ao atuar junto a rede de pontos de cultura, o CUCA se legitima e consolida enquanto movimento cultural dentro e fora das universidades. Em diversos estados os CUCAs vem tendo uma atuação desta; cada nos encontros e fóruns de pontos de cultura, e neste sentido o papel do CUCA é contribuir para a organização política do movimento cultural, a partir da experiência acumulada do movimento estudantil e da relação com os movimentos sociais.

fonte: Caravana da UNE