Pontos de Solidariedade
No último sábado (24) o Fórum dos Pontos de Cultura do Rio de Janeiro realizou o Pontos de Solidariedade – Uma ação político cultural contra a criminalização da pobreza e por direito a políticas públicas para o conjunto da sociedade. O evento, que aconteceu no Centro do Teatro do Oprimido, na Lapa, contou com apresentações artísticas dos Pontos de Cultura, exibição de vídeos e arrecadação de doações para desabrigados pelas chuvas.
O encontro estava marcado para 16h e aos poucos as pessoas foram chegando e ajudando na arrumação do espaço: organizar arquibancadas, fazer as faixas, selecionar os videos, montar o som gentilmente cedido pelo ponto de cultura do Museu da Maré. Trabalho não faltava - vale lembrar, sempre coletivo.
O Ponto de Cultura América no Coração da Baixada abriu as apresentações da noite com Dona Dalma, do grupo de terceira idade do projeto, que também levou as apresentações de Carmem Miranda (por Nathalia Januzzi) e Ney Matogrosso (por Kleber Moreyra), que colocaram a platéia toda para dançar. O evento contou também com a roda de samba d
o Ponto de Cultura O Som das Comunidades, trazendo o melhor do samba para a atividade, que encerrou ao som de “Aquarela Brasileira”, de Silas de Oliveira, fazendo-nos sempre lembrar da bela diversidade cultural do país.
Além das apresentações, os participantes assistiram também ao vídeo do prêmio Interações Estéticas (outra ação ligada ao Programa Cultura Viva), ao registro feito pelo Me Vê na TV da 1ª Teia dos Pontos de Cultura RJ/ES realizada em Nova Iguaçu em 2007, e a vinheta de lançamento da 7ª Bienal da UNE Cordel Digital: Imaginário Popular em rede.
Na ocasião, também foi lida a carta “Catástrofes e descaso do poder público na gestão urbana: onde está o problema?”, uma resposta do Fórum dos Pontos de Cultura aos estragos causados pelas fortes chuvas que atingiram o estado nas últimas semanas.
Foram arrecadados materiais de higiene, alimentos não perecíveis, roupas e agasalhos, entregues à comunidade do Borel, atingida pelas enchentes.
Do encontro, realizado durante o Viradão Carioca, saiu a idéia de fazer um circuito de apresentações artísticas dos Pontos de Cultura. Para Firmino, do Centro de Cultura e Educação Lúdica da Rocinha, “poderia ter um palco de dez da manhã às dez da noite que ainda iria faltar espaço pra todo mundo se apresentar”.
Em uma avaliação feita pelos presentes, poderia ter havido maior participação do Fórum dos Pontos de Cultura no evento. Mas, de uma forma geral, conclui-se que foi importante a realização da atividade, que arrecadou doações em uma ação que além de cultural, também teve caráter político. Para Carla Daniel, do Centro Internacional de Estudos e Pesquisas sobre a Infância (Ciespi), uma das participantes do Fórum, “estes são momentos importantes de construção coletiva que nos fazem caminhar, rememorar e até questionar o que queremos e, sobretudo, o que podemos”.
Mais informações sobre o Fórum dos Pontos de Cultura do RJ.
Confira abaixo a carta lida no encontro:
Catástrofes e descaso do poder público na gestão urbana: onde está o problema?
Aos que tiveram a vida ceifada nas ultimas semanas em função da catástrofe do início de abril, e as familias que estão convivendo com esta tragédia, os nossos profundos sentimentos!
O fórum dos pontos de cultura do estado do rio solidariza-se com todas e todos que moram em morros; encostas; beira de valas, valões, próximos a rios, periferias e baixadas.
Setores elitistas da nossa sociedade sempre discriminaram e culparam os pobres, por morarem em lugares impróprios, como divulgado por representantes públicos nos meios de comunicação. A política publica sempre foi a de remoção!!!
“Se moramos onde moramos não é simplesmente porque queremos, mas, pelo que restou do que nos foi negado historicamente, pela ausência de políticas habitacionais, desde a abolição da escravidão neste país.”
Não é opção. É falta de opção.
As prefeituras e o governo estadual deveriam garantir prevenção básica nos morros, como poda de arvores, coleta seletiva de lixo, muros de contenção de encostas, fechamento de valas e etc. como ocorre no “asfalto”. Alem de planos de emergência de defesa civil para a população e a oferta de moradias dignas.
O governo federal ter um planejamento urbano de médio e longo prazo. Dentre outras ações que poderiam evitar tanto sofrimento.
A falta de políticas públicas contribuiu para um grande déficit habitacional no Brasil, segundo o movimento de luta por moradia. Há centenas de imóveis públicos fechados pelo estado do rio afora e que poderiam servir de moradia, assim como dezenas de fábricas que se encontram fechadas na Avenida Brasil e via Dutra, por exemplo.
O Fórum dos Pontos de Cultura do Estado do Rio exige políticas públicas sociais na área da habitação e gestão urbana, sobretudo, respeitando os aspectos culturais locais, parte importante dos direitos básicos de todo cidadão.
Importante frisar que fora da política não há solução. Somente através de uma ação política articulada e democrática com a participação dos moradores teremos alternativas para a questão.
Abaixo o crime do esquecimento e do descaso de tantas outras tragédias.
Não as remoções unilaterais e autoritárias sem a participação das comunidades.
Urbanização e serviços básicos da cidade nos morros já!!!
Cumpra-se o estatuto das cidades.
Fórum dos Pontos de Cultura, 24 de abril de 2010.
por @alinecarvalho