quarta-feira, 31 de março de 2010

Ebulição dos Libertos


Neste domingo (28) em Fortaleza-CE, dentro da programação da Teia 2010, diversos representantes do Ministério da Cultura e delegados e delegadas de Pontos de Cultura de todo o Brasil se reuniram na Praça Verde do Centro Cultural Dragão do Mar para iníciarem as atividades do III Fórum Nacional dos Pontos de Cultura. Dentre os representantes do Ministério da Cultura destacou-se a fala de TT Catalão, que assume a Secretaria de Cidadania Cultural do MinC, em substituição à Célio Turino, expondo sua preocupação em dar continuidade ao Programa Cultura Viva, transformando-a em política de Estado e que o III Fórum terá um papel dicisivo neste processo, para que o mesmo seja aprovado pelo Congresso Nacional. Na ocasião foi lido, discutido e aprovado o Regimento Interno do III Fórum Nacional dos Pontos de Cultura.

Depois de três dias dedicados às atividades culturais, seminários e oficinas, os Pontos de Cultura de todo o país se reuniram na Av. Beira Mar em todas as suas diversidade culturais, em concentração para a saída do Cortejo da Cidadania “Ebulição dos Libertos”, lembrando a figura do líder obolicionista cearence Francisco José do Nascimento, o “Dragao do Mar”, que em 1884, quatro anos antes da Lei Áurea, foi um dos principais responsáveis pela abolição da escravatura no estado do Ceará.

Maracatú, Samba de Cumbuca, Capoeira, Samba de Coco, Grupos Afros, Bumba meu boi e tantas outras manifestações culturais brasileiras, embalados pelos sons dos grupos Multiplicadores de Música (Fortaleza-CE), Roteiro de luz – Boi Juventude (Fortaleza-CE) e pela Caravana Carbono Neutro – Balada Carbono (Belém-PA) desfilaram pela orla da Praia de Iracema em um sinal de liberdade cultural, reafirmando a legítima identidade revolucionário do povo brasileiro.

O Cuca da UNE partcipou da Mostra Artística em parceria com o Coletivo Camaradas, que durante os dias do evento desenhou a silhueta de dezenas de participantes daTeia 2010 em um parangolé (tecido) de 36 metros de extensão. Durante a
tarde do domingo (28), os cuqueiros de todo o Brasil e o Coletivo Camaradas produziram estandartes, adereços e a cabaça de um dragão com materiais retirados lixo da Teia 2010. No trajeto do cortejo os participantes da Teia 2010 e populares interagiram com a intervenção onde todos eram convidados a carregar o tecido com as silhuetas, tendo a frente a cabeça feita de materiais reciclados transform
ando-se em um enorme “dragão chinês”, que mesmo com o cair da chuva não deixaram que a festa de todas as cores e diversidades perdesse seu brilho até o aterro de Iracema.

Na chegada ao aterro de Iracema, um palco montado esperava os participantes do cortejo, onde passaram diversos rítimos. Entre as apresentações estavam o cantor e compositor paraibano Chico César e a Banda Dona Zefinha, do Ceará. Os participantes da Teia 2010 despediram-se da Mostra Artística e se recuperaram o fôlego para os trabalhos do III Fórum Nacional dos Pontos de Cultura, de onde seram identificadas todas as demanda e propostas para o desenvolvimento dos trabalhos dos Pontos de Cultura.

Por Aciel Mendes e Gardiê Silveira, CUCA da UNE Cabeça de Cuia - PI.

segunda-feira, 29 de março de 2010

Tecendo a TEIA

Membros do CUCA de todo o Brasil estão no Teia 2010 – Tambores Digitais. Todos estão participando de seminários, oficinas e debates cuja pauta é a Economia Solidária.

As discussões perpassam por eixos como comercialização de produtos oriundos dos Pontos de Cultura, sustentabilidade das ações, e a importância da comunicação em rede em todo o processo.


Na programação Teia de Ações – Cultura e Práxis, espaço reservado para discussões que visam o amadurecimento das discussões que irão pautar os debates e as deliberações do Fórum Nacional dos Pontos de Cultura.
Na reunião de Gestores de Redes, a consolidação do programa Cultura Viva como Política de Estado. Este é último espaço de encontro entre Pontos de Cultura durante na atual gestão do Ministério e a continuidade do suporte às ações e o diálogo entre poder público e sociedade civil é uma importante preocupação. Sabemos que o movimento social da cultura está potencializado e continuará existindo através da rede estabelecida. Assim, uma das propostas é que saia do Fórum dos Pontos de Cultura uma carta aberta para que os candidatos à presidência se posicionem a respeito da política cultural, mostrando assim a base social constituída através do programa.

No seminário “A importânia das redes para a sustentabilidade do empreendimento, foram discutida as formas de continuidade das ações a partir da colaboração em rede. Para Shirley, representante do Fórum Brasileiro de Economia Solidária, “a economia solidária propõe um outro modelo de sociedade, o estabelecimento de redes e trocas, não apenas o escoamento da produção. Por que a gente não pensa em um governo onde o modelo econômico seja distribuitivo e compartilhado?”.

Prêmio Cultura Hip Hop 2010 – Edição Preto Ghóez, é um projeto lançado pelo Ministério da Cultura em parceria com a Ação Educativa e o Instituto Empreender. O edital, será o primeiro a contemplar exclusivamente a Cultura Hip Hop. O prêmio leva o nome do rapper maranhense – morto aos 33 anos de acidente automobilístico em Santa Catarina, em setembro de 2004. Preto Ghóez era ativista cultural e social, construiu um movimento a partir de sua música, o hip hop. Foi idealizador, em parceria com o MinC, do projeto Fome de Livro na Quebrada e participava de um grupo de trabalho a fim de desenvolver parcerias entre o governo e o Movimento Hip hop.

O Conjunto Palmeira, onde tem o primeiro banco Comunitário do Brasil, Banco Palmas, que não teve um criador especifico. 240 empreendimentos (produção, comércios e serviços) do bairro aceitam a moeda e dão descontos de 5% a 10% para quem compra com a moeda local. Os emprendimentos cadastrados podem fazer câmbio (a troca de palmas por reais), na sede do Banco Palmas, caso necessitem de moeda nacional para reabastecerem seus estoques.

Texto Aline Carvalho
Fotos Andressa Argenta e Luiza Bezerra

domingo, 28 de março de 2010

TEIA 2010

Por Aline Carvalho


A última quinta-feira, dia 25, foi um importante dia para a cultura brasileira. No dia nacional do Maracatu, tinha início na cidade de Fortaleza o quarto encontro nacional dos Pontos de Cultura, a Teia 2010: Tambores Digitais. Na programação da noite de abertura, coroação das rainhas do maracatu, o cantor cearense Fagner e o rapper carioca B Negão. O encontro prometia: “A diversidade cultural brasileira se encontra em todos os pontos”.

Durante a sexta e o sábado, a Teia das Ações – conceitos e práxis, reúne participantes das Ações do Programa Cultura Viva para reflexão e compartilhamento de suas ações locais. Ao fim do encontro um documento será encaminhado ao Ministério da Cultura com propostas inovadoras para a continuidade do programa.

Paralelamente, a Mostra Artística traz 88 atividades culturais de Pontos de Cultura de todas regiões do país e diversas linguagens artísticas. Entre eles, o Projeto de Intervenção Ambiental – PIA, ligado ao CUCA Ceará reuniu na sexta de manhã diversos jovens, tintas e tecidos na montagem de um grande parangolé coletivo no pátio do Dragão do Mar.
Além do pessoal do PIA, representantes dos CUCAs de diversos estados se encontram na Teia para trocar experiências, mostrar seus trabalhos e debater cultura, educação e juventude.

Segundo Fellipe Redó, coordenador do Instituto CUCA, “É importante que a juventude ocupe os espaços aqui, trazendo os debates que temos feito em nossos estados e apresentando pra essa nova geração de Pontos de Cultura a proposta de cultura em rede do CUCA”. Thiago Pondé, coordenador artístico do Instituto, lembra que “diferentemente do CPC (Centro Popular de Cultura da UNE, criado em 1962), o CUCA tem a 'Arte' no nome, e por isso é importante que não nos descuidemos de desenvolver ações e diversas linguagens artísticas em nossas atividades”.

Na noite de sexta-feira, a abertura oficial do evento trazia representantes do Ministério da Cultura e do governo estadual para saudar a realização do encontro. A emocionada fala de Célio Turino, ex-Secretário de Cidadania Cultural e idealizador do programa, simbolizava o início de um novo ciclo na construção que vem sendo feita ao longo de seis anos de programa. O Ministro da Cultura, Juca Ferreira, afirma que “a cultura no país nunca foi tão livre”, e se despede a caminho da Conferência Nacional de Educação, que começa dia 28, ressalatando a importância deste espaço de diálogo entre as duas políticas.

Fórum tem início hoje

O Fórum Nacional dos Pontos de Cultura que começa neste domingo, dia 28. Além de deliberar as ações da Rede de Pontos de Cultura para o próximo ano e eleger a nova Comissão Nacional de Pontos de Cultura, o Fórum será um importante espaço de fortalecimento do movimento, em um momento onde se tem como principal pauta a consolidação do Programa Cultura Viva como política de Estado.

Acompanhe a cobertura da Teia 2010 no blog (www.cucadaune.blogspot.com), no www.videolog.uol.com.br/cucaune e no twitter (www.twitter.com) do CUCA.

quinta-feira, 25 de março de 2010

Tambores Digitais - TEIA 2010

O mais plural encontro de cultura brasileira, a Teia 2010 – Tambores Digitais tem início hoje, na cidade de Fortaleza. O evento é realizado pela Comissão Nacional dos Pontos de Cultura.


Como o prórpio nome sugere, a TEIA é um emaranhado de manifestações culturais de diversas regiões e em várias linguagens. A TEIA também se faz pelo Fórum Nacional dos Pontos de Cultura, juntamente com seminários, painéis, debates, exposições, uma feira de economia solidária e apresentações artísticas.

Já, os dias 26 e 27 de março estão reservados para a Teia das Ações – Conceitos e Práxis, atividades colaborativas que buscam reunir as ações do programa Cultura Viva dentro da Teia 2010- Tambores Digitais.

CUCA da UNE na TEIA

O CUCA da UNE atua na rede dos pontos de cultura, com centros de cultura espalhados por 15 estados do país, e tem forte atuação entre as ações do programa Cultura Viva. A Comissão Nacional dos Pontos de Cultura, que este ano realiza a TEIA, representada pelo Instituto Cidade, também conta com participação do CUCA. Vanessa Stropp, coordenadora de projetos do Instituto CUCA da UNE, é membro da comissão nacional, e conversou com o Blog do CUCA.

Na opinião de Vanessa, "estamos construindo uma nova cultura política, que gera mudanças de valor, sociais, econômicas..." Questionada sobre a relação estado/sociedade, no que diz respeito a diversidade cultural brasileira, Vanessa discorre:

"Interessante essa observação... Não tenho medo de dizer que nunca antes na história desse país o movimento social teve oportunidade de dialogar com o Estado como acontece hoje. Estamos construindo uma nova cultura política, que gera mudanças de valor, sociais, econômicas... atinge, portanto, um nível para além das políticas culturais especificamente. A Teia é uma prova disso, é realizada a muitas mãos, mãos que vêm dos governos, dos artistas, dos gestores. Então, são muitos os atores que constróem essa história. A Teia das Ações é, na minha opinião, o resultado de uma gestão pública que conhece a fundo as necessidades e potenciais dos produtores da cultura brasileira, ela é fruto de programas construídos de baixo pra cima. Além dela, também incluo nessa lista o Fórum Nacional dos Pontos de Cultura, um espaço essencialmente político do movimento, e não é exagero dizer que a continuidade do Programa Cultura Viva só se dá porque consegue organizar o povo. Baseados numa equação de autonomia + protagonismo, os pontos de cultura, quando articulados em rede, se realizam o tempo todo. O que será visto nos próximos dias é a celebração da cultura brasileira, uma bela festa do povo."

Blog do CUCA

sábado, 20 de março de 2010

Dia do haitivismo


O que é Haitivismo?
O HAITIVISMO pretende resgatar e difundir largamente a história da ilha caribenha, desconstruindo a visão de seus colonizadores e invasores, elevando seu apreço pela liberdade que a fez o primeiro país latino-americano independente e o único a abolir a escravidão pelos próprios escravos, com a revolução protagonizada por mais de 500 mil negros; sua cultura (música, artesanato, ritos festivos e religiosos, produção musical e de audiovisual) e estabelecer o debate em defesa do fortalecimento de sua economia, autonomia política, soberania, democracia e empoderamento de seus diversos atores sociais combatendo as visões preconceituosas de suas crenças e realidade.

Como a campanha funciona?

A Campanha tem por objetivo a arrecadação de materiais para abrigo provisório tais como: barracas, toldos e tendas a serem enviados à capital Porto Príncipe.

Qual o público alvo da Campanha?

A juventude ativista, a sociedade civil organizada, empresários e comerciantes, movimentos sociais e todos/as os/as interessados/as em ajudar o povo haitiano.

Qual a metodologia da Campanha?
A metodologia será a do recebimento apenas de barracas, toldos e tendas. Ou seja, a Haitivismo não receberá, em nenhuma hipótese, valores em dinheiro – quer seja em espécie ou em depósito – tampouco outros materiais distintos dos já elencados, tais como roupas, alimentos, água etc.

Como serão feitas as doações?

As doações poderão ocorrer tanto nos postos de recebimento quanto nos eventos que serão realizados. Os endereços serão divulgados em breve.

Mas, como minha barraca vai chegar ao Haiti?

O transporte das doações até a capital Porto Príncipe ficará a cargo do Governo Federal, através da Defesa Civil Nacional.
Todo o material arrecadado ficará sob a responsabilidade da organização da campanha que poderá indicar parceiros, inclusive para seu armazenamento e transporte interno.

Como será a divulgação da Campanha?

A divulgação da Campanha ocorrerá através da Internet (Hot Site, e-mail, Radio e Tv web, redes sociais -Twitter, Ning, Orkut, Facebook, Buzz), Mídia Impressa (jornais), Mídia televisiva e radiodifusora, panfletos, cartazes e folderes.
Está prevista a produção de camisetas, fitas, bandanas além de adesivos, que serão entregues aos doadores, de modo a massificar a identidade visual da campanha.

Quero ajudar mais na Campanha, além da doação. Como eu faço?
Entre em contato conosco 61. 8614-8506 ou encaminhe um e-mail para: juventudepelohaiti@gmail.com

Atuais Parceiros
Associaçao Nacional dos Coletivos de Empresários e Empreendedores Afro-Brasileiros

Griô Produções
Centro Universitário de Cultura e Arte – CUCA da UNE 
Coletivo Unos
UNE - União Nacional dos Estudantes
GIRA – Grupo de Intervenção e Reciclagem Ambiental
União Nacional de Esposas de Militares das Forças Armadas – Unemfa
IBRACE – Instituto Brasil de Desenvolvimento Social, Cidadania e Educação
Jardim Botânico de Brasília
Gasol – Combustíveis automobilísticos
Grupo Cangaço
Juventude Socialista Brasileira – JSB
Coletivo de Redes Unbando
Aliança Internacional dos Habitantes
Centro de Estudos e Momória da Juventude

sexta-feira, 19 de março de 2010

'Roko-Loko e Adrina-Lina - Hey ho, Let's Go!'

'Roko-Loko e Adrina-Lina - Hey ho, Let's Go!' é a mais nova coletânea de quadrinhos curtos de Marcio Baraldi, publicados originalmente na revista Rock Brigade, entre 2004 e 2006. O livro - 12º da carreira - tem 50 páginas coloridas em formato grande, capa cartonada ao preço módico de R$ 10, com direito a miolo em papel couché. O lançamento é da editora GRRR!... (Gibi Raivoso, Radical e Revolucionário!, selo criado pelo próprio Baraldi) e da Rock Brigade, mas ainda traz uma página que associa a trajetória do Baraldão à editora que o apoiou durante anos: a Opera Graphica. O álbum (e os bonecos derivados da série Roko Loko) podem ser adquiridos através do endereço eletrônico http://www.idealshop.com.br/baraldi

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O cara

As obras de mestres que já conseguiram garantir seu lugar definitivo na história da nona arte, como Cocco Bill de Jacovitti, 300, de Frank Miller e El Eternauta, de Héctor Germán Oesterheld, no geral, são analisadas por cronistas de forma muito concêntrica: quase sempre, os pontos altos destacados são os mesmos. No caso de Baraldi, acontece o contrário: gente bacana, atenta e que entende do riscado sempre vai apontando vários detalhes e nuances diferentes de suas criações.

Outro detalhe é a forte presença de Marcio Baraldi como pessoa única, que acredita no que faz, e se afirma co
m uma força incrível, ao defender seu trabalho, inclusive usando imagens promocionais como esta aí de cima, que dá uma imagem parcial de sua pessoa. Não dá para se alongar muito numa resenha, mas quem pesquisar a vida do nosso autor, vai perceber o quanto a postura de Baraldi, de ser o (aspas) 'melh
or marketeiro de si mesmo do quadrinho nacional' é fruto de uma história de muita superação e afirmação. O melhor retrato dessa vida está num veículo de papel (que não tem versão online): a revista Graphiq . Online, sugerimos uma anti-entrevista dele comigo, em vídeo.

Dificilmente, alguém resenha um livro dele sem se referir a esse caráter marcante. O que importa ressaltar é que essa garra gera um artista que - como nenhum outro, no Brasil - vai atrás do olho-no-olho do leitor, do tal de feedback. Como não temos, ainda, no Brasil, um calendário constante de festivais onde os artistas interagem com o público, Baraldi faz de suas andanças seu próprio festival.

Mas é preciso sublinhar o Baraldi quase sempre esquecido: ele é dos raríssimos nonoartistas que já têm em casa um Prêmio Vladimir Herzog, foi o quadrinhista escolhido pela melhor revista espírita do Brasil para ilustrar o adeus a esse gigante da sensibilidade pátria que foi Chico Xavier e é autor das ilustrações de 4 livros por uma editora que é sinônimo de cuidado: a Salesiana. Dois deles são emblemáticos do humanismo que habita o coração do Baraldão: 'Cultura de Paz', que 'mostra que é possível construir a paz a partir de posturas simples' e tem a organização do CONIC e 'Geopolítica: O Mundo em Conflito', de autoria de Igor Fuser, na minha opinião, um dos mais brilhantes cérebros da geração de estudantes que reconstruíram a UNE. O biografema se completa ao registarmos que - depois de 23 anos de carreira - Baraldi bate ponto num sindicato de trabalhadores, no centro nervoso de São Paulo, sempre atento a como melhor deslindar os excessos da 'nossa' classe dominante.

A obra

Mais uma vez, Baraldi teve o cuidado (e esforço) de reunir variados depoimentos, para ajudar a situar a sua produção. Num dos textos, encontramos a comparação do editor da (saudosa) Opera Graphica, o mestre Franco de Rosa, chamando o Marcio de 'Carl Barks do quadrinho despachado'. Tomo o despachado aqui em outro e bom sentido: a do artista cujas ideias fervilham, borbulham, brotam em revoadas. Mas essas ideias são lapidadas com mão de quem conhece bem o ofício.

Para expor suas ideias únicas, Baraldi acrescenta um vasto repertório técnico. Começamos pelo mais difícil: o uso da cor. Claro, cores fortes, rock-n'roll e alegremente vistosas, mas com um senso de dosagem que não é nada comum: em momento nenhum, a explosão visual 'briga' com as estórias. O mesmo, em linhas gerais, podemos (e devemos) dizer do letreiramento, outra gama de técnicas e possibilidades que o artista usa e (não) abusa. O trabalho no item letras é completado com distinção nos títulos das HQs e nas onomatopeias. O desenho merece atenção na capacidade de variações. Olhando atentamente, há personagens inteiros que parecem não ter sido traçados pela mesma mão.

Pois bem, o Baraldi colorista, desenhista, arte-finalista e titulador se completa - mesmo - em sua essência, quando se funde com o narrador. O cara que escolhe o que (e o que não) mostrar, como, e em que ritmo. Baraldão pega situações muito particulares de um determinado grupo social e as mostra com tanta propriedade que imediatamente damos (em nossa mente, certo?) 'carne' a bandas e artistas que às vezes são apenas - para muitos leitores - referenciados em notas curtas de noticiários. Uma lição fundamental, já que o artista se propõe a divulgar o rock nacional, assume essa bandeira e nos convence de uma forma muito capaz e às vezes, insinuantemente insolerte. Cuidado com os muitos e bem aplicados 'cacos' que incluem um Napoelão doidão, velas e caveiras de todos os tamanhos e muito mais. Esses cacos ficam mesmo 'espetados' na memória...

Onde nosso artista escorrega: num ou noutro trocadilho, e, na boa, o álbum precisava ter a indicação, clara, na capa, de que não é leitura 'para crianças'. Uma sugestão é que o Baraldi tente usar mais vezes o espaço em branco em volta da ação, para alterar o ritmo (onde o fez, fez legal...), Para os muitos amigos mais fiéis, fica a sugestão de usar a página 41 (onde está a HQ de uma página só 'Eu Apóio o Metal Nacional) como poster dos rockeiros. Lá, também (aspas), 'de graça', o último quadrinho dá um excelente button...

Mas o melhor está no final, onde são publicadas tiras, quase todas, de 3 quadrinhos: as duas últimas tiras são excepcionais mostras de ritmo e originalidade. Daquelas que 'incomodam' quando a gente fica tentando imaginar o que mais inventar no formato tiras. Baraldi não só inventa como arrebenta...

Como todo bom quadrinho, Roko Loko não vai te largar quando você o depositar em sua estante. Ele vai te fazer pensar, lembrar e rir muito tempo depois...

As extensões pra frente

Não seria justo fechar sem mencionar que o Baraldi é dos caras que ajuda a classe a se ver, se fortalecer e se pensar. Ele promove premiações, entrevistas e muito mais, levantando a bola dos outros, em bem da Nona Arte, no geral, quase sempre, publicando conteúdo a respeito no site Bigorna. Não por acaso, artistas como Mozart Couto comparecem no álbum com desenhos como esse aí de cima, incluído no álbum.
Ah, se todo 'marketeiro' fosse assim...

quinta-feira, 18 de março de 2010

Projeto chega a Maceió

Projeto a Maceió em clima de premiação e manifesto

Céu estrelado, brisa do Atlântico, calmaria do rio ou da lagoa e filmes para todos os tipos de público. Este é o clima do projeto de cinema itinerante ACENDA UMA VELA, que chega a Maceió neste sábado (20) na praia de Ponta Verde, na curva do antigo Alagoinha, com uma programação especial para encerrar em grande estilo a 5ª edição. É cinema de graça na sua praia!

Pela primeira vez será entregue o troféu VENTO NORDESTE em quatro categorias, sendo uma de melhor filme na avaliação crítica do Cineclube Ideário e outras três eleitas pelo voto popular: melhor filme da 5ª temporada, melhor filme da sessão Maceió e melhor filme resgatado da história do cinema brasileiro de curta-metragem.

Além da mostra com produções de diversas regiões do Brasil e até mesmo inéditas nesta edição, a sessão de Maceió será um manifesto por uma política pública de incentivo à cultura em Alagoas, que é o único estado do Nordeste sem leis e fundos de fomento à produção cultural.


ACENDA UMA VELA 5ª EDIÇÃO | sessão MACEIÓ
encerramento da temporada

Quando SÁBADO (20/03), A PARTIR DAS 19h
Onde
Na areia da Praia de Ponta Verde, curva do antigo Alagoinha, em frente ao Farol
Quanto
ENTRADA GRATUITA. É cinema de graça na sua praia!

MANIFESTO POR INCENTIVO À CULTURA EM ALAGOAS

ALAGOAS: TERRA SEM LEI

Único estado do Nordeste que não possui nenhuma lei ou mecanismos de incentivo à cultura

A EXPRESSÃO AUDIOVISUAL ALAGOANA É UMA MANIFESTAÇÃO DE NOSSAS IDENTIDADES. É espaço de reflexão do nosso passado para entender o presente e imaginar-projetar futuros.

A despeito de todas as dificuldades, nossa produção tem avançado nos últimos anos. Porém, esse avanço deve-se muito ao esforço pessoal de cineastas na tentativa de produzir filmes sem recursos e até mesmo formação técnica necessária para os profissionais do cinema.

Alagoas é o único estado do Nordeste brasileiro que não possui lei ou mecanismos de incentivo à cultura em nenhuma das suas expressões artísticas e esferas governamentais. Na mesma situação está Maceió em relação às demais capitais da região, que através de editais e fundos de cultura municipais e estaduais deram grande impulso e projeção nacional e internacional à produção audiovisual de estados como Pernambuco, Ceará e Paraíba. Nossos vizinhos, os Pernambucanos, produzem mais de 10 longas-metragens e 20 curtas por ano através de editais de fomento do governo estadual.

Temos que evoluir da política de balcão e pires na mão para a construção de uma real política pública que garanta de forma justa os recursos financeiros suficientes para a produção de cultura com esmero técnico e qualidade. Os cineastas de Alagoas querem fazer cinema sem terem que sair de sua terra pela ausência de cursos de formação e recursos para concretizar sua capacidade criativa.

Os prêmios conquistados, os editais nacionais ganhos e a boa acolhida de produções alagoanas em outras partes do Brasil deixam claro que o que nos falta não é talento. Falta mesmo é fomento, apoio e incentivo para que o cinema de Alagoas cresça em quantidade e qualidade. Temos quase tudo para chegar lá, mas dependemos da consciência dos governantes, gestores e legisladores da importância do audiovisual e demais expressões artísticas para a construção e afirmação da cultura e identidade alagoana no cenário nacional.

O Acenda uma Vela convida a sociedade civil e artistas alagoanos e brasileiros de todos os segmentos artísticos para unirem forças na Campanha por um mecanismo de Incentivo à Cultura no Estado de Alagoas.

segunda-feira, 15 de março de 2010

II Conferência Nacional de Cultura

Avanços em busca de uma consciência coletiva

A II Conferência Nacional de Cultura tem como marco a participação de mais da metade dos municípios de todo o país em suas etapas (municipais, estaduais e setoriais por linguagem artística), totalizando 883 delegados. A II CNC representou um grande avanço, trazendo para o centro dos debates as principais pautas da cultura. “O saldo foi muito positivo. O sentimento é de avanço em busca de uma consciência coletiva que trouxe a cultura novamente para o centro do debate nacional”, avalia o participante e diretor de cultura da UNE, Fellipe Redó.
Os debates da Conferência seguiram cinco eixos temáticos: produção simbólica e diversidade cultural; cultura, cidade e cidadania; cultura e desenvolvimento sustentável; cultura e economia criativa; gestão e institucionalidade da cultura.

É notório também que a juventude participou intensamente em todos os grupos de debates, possibilitando a construção de políticas públicas que devem trazer mais desenvolvimento ao Brasil, como o percentual a ser destinado à cultura através do fundo social do pré-sal. A UNE, em bandeira similar, também apóia que os recursos sejam direcionados a setores estratégicos em nossa nação, como os 50% para a educação. Há ainda a proposta 83 que visa: “Criar marco regulatório (Lei Cultura Viva) que garanta que os Pontos de Cultura se tornem política de Estado, permitindo a ampliação no número de Pontos - contemplando ao menos um em cada município brasileiro e Distrito Federal-, priorizando populações em situação de vulnerabilidade social de modo a fortalecer a rede nacional dos Pontos de Cultura”.
Foram analisadas 347 propostas e eleitas 32 prioridades. As 3 propostas mais votadas dizem respeito a criar urgentemente um marco regulatório para a cultura brasileira, composto principalmente pelo Sistema Nacional de Cultura (SNC), Plano Nacional de Cultura (PNC) e proposta de emenda constitucional (PEC) 150/2003, que vincula à Cultura 2% da receita federal, 1,5% das estaduais e 1% das municipais.

O CUCA da UNE também teve participação destacada na II CNC, com envio de propostas que entraram no caderno de prioridades, além da proposta 47, que aponta para um Programa Nacional de Cultura e Educação que visa integrar o Minc e o MEC. “O Minc e o MEC nesse último período praticamente se deram as costas. Propomos o diálogo entre estes dois elementos que são complementares e que se enriquecem mutuamente”, avalia Rafael Buda, participante da conferência e coordenador de articulação e mobilização social do Cuca da UNE.


Show musical: Caosnavial (Jorge Mautner e Maracatú Estrela de Ouro)

*Rafael Buda é Coordenador de Articulação do Instituto CUCA da UNE

domingo, 14 de março de 2010

Sessão Abraci apresenta Utopia e Barbárie

A Sessão Abraci apresenta nesta quinta-feira, dia 18, às 19h, no Instituto Moreira Salles, a pré-estréia do documentário “Utopia e Barbárie”, de Silvio Tendler.
O filme, no qual o diretor trabalhou durante dezenove anos, é um road movie histórico: para reconstruir o mundo a partir da II Guerra Mundial, passa pela Itália, EUA, Brasil, Vietnam, Cuba, Uruguai, Chile, entre outros países. Em cada um desses lugares, documenta os protagonistas da história.
Entre os entrevistados, estão nomes como o General Giap, extrategista do exército vietnamita, os escritores Susan Sontag, Eduardo Galeano e Jean Marc Salmon, os cineastas Amos Gitai, Fernando Solanas, Denys Arcand, Gillo Potencorvo e Marceline Loridan, o filósofo Leandro Konder, o teólogo Leonardo Boff, o biólogo Ivan Izquierdo, os dramaturgos Augusto Boal e Amir Haddad, entre outros.
O filme é narrado por Letícia Spiller, Chico Diaz e Amir Haddad e a trilha sonora foi especialmente composta pelo grupo Cabruêra, Caíque Botkay, BNegão e Marcelo Yuka.
Após a sessão, haverá debate com o diretor.

Quinta-feira 18 de março de 2010
19h Exibição de “Utopia e Barbárie”, de Silvio Tendler (Brasil, 2009, 120 min)
Debate com o diretor após a sessão.

SERVIÇO
Instituto Moreira Salles
Rua Marquês de São Vicente, 476, Gávea – Rio de Janeiro – RJ
Tel.: (21) 3284-7400
www.ims.com.br
Ingresso: R$ 10,00 (inteira), R$ 5,00 (meia)
Ingressos disponíveis também em www.ingresso.com

COMO CHEGAR
As seguintes linhas de ônibus passam em frente ao IMS:
- 158 – Central-Gávea (via praça Tiradentes, praia do Flamengo, metrô Botafogo)
- 170 – Rodoviária-Gávea (via Rio Branco, largo do Machado, metrô Botafogo)
- 592 – Leme-São Conrado (via Rio Sul, metrô Botafogo)
- 593 – Leme-Gávea (via Barata Ribeiro, Prudente de Morais, Bartolomeu Mitre)
- 1024 – Executivo: Praça Mauá-Gávea (via Rio Branco, Praia do Flamengo, metrô Botafogo)

sexta-feira, 12 de março de 2010

O Brasil na Conferência Nacional de Cultura

Começou a II Conferência Nacional de Cultura, em Brasília. Entre filas de credenciamento, reuniões de delegados e aprovação do regimento, logo estavam montadas barracas de artesanato, rádio comunitária e até uma roda de capoeira no meio do hall do centro de convenções.

De noite, o Teatro Municipal esperava os participantes para uma grande celebração da diversidade cultural brasileira, com a presença de autoridades presentes como o presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva; e os ministros Dilma Roussef (Casa Civil), Juca Ferreira (Cultura), Franklin Martins (Comunicação Social), Orlando Silva (Esportes) e Patrus Ananias (Desenvolvimento Social e Combate à Fome). Entre apresentações de circo, dança, música, poesia, malabares de fogo e pernas de pau, e tambores, os discursos dos dirigentes agradeciam a presença de todos e comemoravam a realização de mais uma Conferência. Segundo a ministra-chefe da Casa Civil Dilma Roussef, "hoje tratamos a cultura com um estado presente, mas não impositivo, por essa razão, a participação de vocês nessa construção é de suma importância".


Silvana Meireles, Secretária de Articulação Institucional do MinC e coordenadora geral da CNC, cita a resposta de um ribeirinho quando questionada sobre o objetivo do encontro: "A Conferência serve pra conferir se tudo está nos conformes". Já o rapper brasiliense GOG, representante do Conselho Nacional de Política Cultural, ressaltou a importância deste momento político da cultura com outro relato: "quando um agente cultural da periferia é convidado nominalmente pelo Ministro da Cultura para uma cadeira tradicionalmente ocupada por representantes de notório saber, é sinal de que algo está mudando".

O Ministro Juca Ferreira, por sua vez, rebateu as críticas que o Ministério vem recebendo ultimamente nos grandes meios de comunicação: "Fico preocupado quando questionam este processo de consulta que o presidente Lula tem implementado, as conferências. Política pública isso não é coisa de se fazer em gabinete, e cultura não combina com silêncio, temos que ouvir todo mundo". E termina lembrando a aprovação de parte da verba do pré sal no Fundo Social para a cultura.

Encerrando a noite, o presidente Lula parabenizou a atual política do MinC: "Vocês não sabem o quanto esses meninos Juca Ferreira e Gilberto Gil apanharam pegando um titinho do dinheiro da cultura e levando pro Norte e pro Nordeste do país". Indo além da pauta da cultura, falou também da do Plano Nacional de Banda Larga, da concentração dos meios de comunicação e revidou as críticas que vem recebendo: "Como estas ja fizemos 67 conferências nacionais. As pessoas falam como se este que vos fala tivesse medo da polêmica. Eu sou o resultado da polêmica".

Por Aline Carvalho, de Brasília para o Blog do CUCA

CUCA na TEIA



Aconteceu entre os dias 26,27 e 28 de Fevereiro a Teia Regional Sul e o Fórum Gaúcho dos Pontos de cultura na cidade de São Francisco do sul .
Estiveram presentes cerca de 250 participantes de Pontos de Cultura da região sul, do num grande evento que reuniu debates, oficinas e apresentações artísticas.


CUCA/UNE- RS teve sua participação através de seu Coordenador Geral RS Fabio Kossmann ( Alemão) , Andressa Coodernadora do CUCA/Santa Maria e Luísa Almeida do CUCA/UFRGS.


Durante o evento o CUCA participou da mesa que reuniu os Pontões de Cultura da região sul do Brasil colocando a importância da articulação dos pontos de cultura com a universidade possibilitando a contrução de um debate da cultura popular das comunidades com o dito erudito produzido na academia . Também ressaltou as ações do Pontão de Cultura CUCA/UNE em Porto Alegre e em Londrina PR no Paraná que mostrou a cara da cultura dos Pontos de Cultura dentro das universidades.

Dentro da Teia Sul teve um momento reservado ao Forum Gaúcho de Pontos de Cultura que é o espaço de articulação politica que elegeu novos representantes dos Pontos no RS para o ano 2010.

Ao final do evento o Ministério da Cultura apresentou como será a Teia Nacional 2010 - Tambores Digitais, que reunirá cerca de 3.300 participantes de todos os pontos de cultura do Brasil inteiro em Fortaleza- CE .

segunda-feira, 8 de março de 2010

Mulheres comandam

O 10º Acampamento de Mulheres Trabalhadoras Rurais do Movimento sem Terra da Bahia foi aberto ontem - em Salvador -, e continua até segunda-feira, 8 de Março. O encontro reúne cerca de 2.000 mulheres e faz parte de um calendário de lutas estadual e nacional.


Mas as mulheres gaúchas do campo e da cidade é que balançaram - mesmo - o chão da praça e das estradas: a quarta-feira foi marcada por uma série de protestos em pelo menos 6 pontos do Rio Grande do Sul. A maioria foi comandada pelas mulheres da Via Capesina, que se dividiram em 3 marchas. As ações renderam até alguns segundos em um telejornal nacional. A cobertura do Plantão SINTRACOM procura ir mais fundo e mais longe, para que os nossos leitores entendam a extensão da jornada de lutas, e seus motivos, que não se restringiram à questão do preço do fumo.

Sim, o MPA (Movimento dos Pequenos Agricultores) cobra definição de reajuste no preço do fumo (atualmente em R$150,00 por arroba), mas - também - a redução dos preços dos insumos e auxílio aos produtores atingidos pelas enchentes. Muito além disso, o MPA teve a inteligência de associar a sua pauta de reivindicações às de outros gaúchos e gauchas.

As mulheres que participaram das mobilizações denunciam, em nota pública, que mais de 95% da soja e cerca de 40% do milho que são plantados no Rio Grande do Sul são geneticamente modificados e que o Brasil é o campeão mundial de uso de agrotóxicos. Por isso, 'a maior parte da comida que chega à mesa da população brasileira não é alimento, é veneno'. (ao final desse texto, o manifesto da mulherada que peleia).

Detalhes locais dos protestos

Porto Alegre


Dezenas de mulheres da Via Campesina (1), do Movimento de Trabalhadores Desempregados (MTD) e movimentos sindicais ocuparam o sétimo andar do prédio da delegacia estadual do Ministério da Agricultura. O ato foi contra a 'política de desenvolvimento do governo federal que privilegia o agronegócio, responsável pela produção de alimentos transgênicos, com o uso intenso de agrotóxicos', destacou o MST, em nota. Lá, elas espalharam sementes transgênicas de milho e arroz pelos corredores.
caminhada em Porto Alegre
À tarde, um grupo de manifestantes seguiu em 11 ônibus para a UFRGS (Universidade Federal do Rio Grande do Sul), para questionar a implantação de um parque tecnológico de pesquisas (amplamente saudado por setores conservadores da imprensa gaúcha). Segundo a Via Campesina, o empreendimento é destinado a pesquisas para multinacionais. A assessoria de imprensa da UFRGS informa que a criação do parque ainda depende de aprovação do conselho universitário (vídeo sobre essa luta, tambem liderada por mulheres, aqui ).

A quinta-feira (4/3) foi de atividades internas no acampamento das mulheres. Na parte da manhã, ocorreram debates. À tarde, um grupo formado por camponeses, estudantes e trabalhadores urbanos usou o teatro popular para problematizar assuntos como o machismo na família e dentro de casa, no meio rural e a mercantilização do corpo da mulher.

No final da tarde, as mulheres voltam às suas regionais, encerrando o acampamento na capital dos gaúchos. Um grupo ainda fica na cidade para participar do protesto dos estudantes da UFRGS, que acontece na manhã de hoje.

Palmeira das Missões

No noroeste do estado, centenas de mulheres se reuniram em Palmeira das Missões. Elas bloquearam a rodovia RS-569 por cerca de duas horas, entre Palmeira das Missões e Novo Barreiro, em frente ao acampamento dos Sem-Terra. Elas protestam contra a lentidão do processo de Reforma Agrária no Brasil. Depois disso, por volta das 10 horas, as trabalhadoras seguiram em um ônibus para a prefeitura do município para reivindicar o combate à violência contra as mulheres. O ato se repetiu também em frente à multinacional Solae Alimentos, que fica às margens da BR-116. Caminhões que chegavam à empresa carregados com soja foram barrados na porta pelo movimento.

Esteio


Os portões de entrada da empresa Solae na cidade de Esteio (na Grande Porto Alegre), também foi ocupado por cerca de 800 mulheres. A fábrica foi escolhida por ser um dos maiores complexos de processamento de soja transgênica do Brasil: a Solae foi fundada em 2003 por uma aliança do grupo Bunge(2) (multinacional de sementes e de comida industrializada) com o grupo Dupont (produtora de agrotóxicos).

Em Esteio, as camponesas e camponeses ficaram por cerca de 4 horas. Durante a manifestação, as mulheres simbolicamente 'amamentaram' esqueletos para denunciar que os efeitos nocivos dos agrotóxicos e dos transgênicos. Os caminhões carregados com soja só puderam ingressar na empresa depois das 11 horas , quando o bloqueio dos trabalhadores foi supsenso. Eles estavam com bandeiras, faixas e alimentos. Pouco antes do meio-dia, o grupo saiu em diversos ônibus pela BR-116 em direção a Porto Alegre.

Santa Cruz do Sul
O aparato repressivo em Santa Cruz do Sul


Em Santa Cruz do Sul - capital do fumo gaúcho - o MPA escolheu o momento da visita da governadora Yeda Crusius à região e a grande aglomeração de pessoas por conta da abertura da grande feira agropecuária anual da região para ter mais visibilidade.

O MPA estava acampado no parque de eventos de Santa Cruz do Sul desde a terça-feira. Por volta das 7:30 horas, os agricultores levantaram acampamento e embarcaram em ônibus até a rodovia BR–471 (Santa Cruz–Rio Pardo). Logo após chegar, os manifestantes montaram um bloqueio sobre a rodovia, pegando de surpresa motoristas que seguiam para a Expoagro. Meia-hora depois, o MPA retomou a marcha, por uma das pistas da rodovia. Segundo a coordenação do movimento, 2.000 pessoas participaram desta caminhada. Na chegada a um pedágio, os manifestantes voltaram a interromper o trânsito. Dali, a caminhada seguiu até um cruzamento da BR com uma estrada pequena, onde os agricultores se depararam com uma barreira montada por PMs munidos com escudos, a maioria do Pelotão de Choque do Batalhão de Operações Especiais. Neste local, houve disparos, que feriram uma agricultora no rosto (foto abaixo). Cerca de 1.000 pessoas tentaram furar o bloqueio da polícia, que reagiu com tiros de balas de borracha.

O coordenador do MPA, Gilberto Tutenhagen, afirma que a manifestação dos produtores ocorria de forma pacífica. ' Não tínhamos um pedaço de pau e uma enxada, e fomos recebidos com bombas e balas de borracha. Várias pessoas foram feridas, inclusive uma mulher com ferimentos na cabeça' – contou Gilberto.
À tarde, o MPA se instalou na Praça Getúlio Vargas, no centro de Santa Cruz. Durante um ato político, o vereador Wilson Luiz Rabuske (PT), coordenador local do movimento, recebeu um mandado proibitório de um oficial de justiça. Segundo Rabuske, o documento estipula multa de R$ 50.000 por dia, caso o MPA invada as dependências da Souza Cruz. Ao fim da tarde, os agricultores retornaram a suas casas.


Hulha Negra

Por volta das 11 horas, cerca de 50 integrantes de 20 assentamentos do interior do município de Hulha Negra (na Região da Campanha, fronteira sudoeste do RS), chegaram à frente da prefeitura do município. Eles exigiam uma reunião com o prefeito para reivindicar melhorias nas estradas vicinais da região.

O grupo deixou o assentamento na tarde anterior e acampou de noite na localidade do Passo do Neto, distante cerca de 20 quilômetros do centro da cidade.

De acordo com um dos representantes dos agricultores, Mário Vodzik, uma reunião com o prefeito Machado havia sido agendada para a semana passada. Causou surpresa a eles o aparato de segurança montado pela BM. “Tinha uma porção de viaturas pela estrada, outras na frente da prefeitura”, comentou Vodzik. “Nos sentimos ofendidos e humilhados”, completou Ildo Pereira, outro representante dos assentados. Foi a partir deste fato que resolveram se mobilizar e marchar rumo à prefeitura.

Reunidos (e esclarecidos) muitos dos fatos, sugerimos, agora a visualização de um vídeo da retransmissora estadual da Rede Globo (aqui), para ajudar a guardar na memória essa jornada. Em mais de uma fonte, está assinalado que integrantes da Via Campesina afirmaram que outros protestos serão deflagrados em diversos pontos do RS por estes dias. Portanto, fiquemos atentos..


O manifesto das gaúchas

Mulheres do campo e da cidade unidas na luta contra o agronegócio e pela soberania alimentar

Neste mês em que se comemoram os 100 anos do 8 de março como dia internacional de luta das mulheres, nós trabalhadoras do campo e da cidade do Rio Grande do Sul estamos novamente nas ruas. Este ano nossa mobilização tem como principal objetivo denunciar para a sociedade que a maior parte da comida que chega a mesa da população brasileira não é alimento, é veneno.

O Brasil é campeão mundial do uso de agrotóxicos, que são venenos muito perigosos usados na agricultura que provocam muitas doenças para produtoras/es e consumidoras/es e grandes impactos ambientais. Além disso, a maior parte dos produtos industriais que comemos é fabricada com soja transgênica que também causa muito mal à nossa saúde.

E quem come esta comida envenenada? Somos nós, pobres. São as mulheres e homens trabalhadores que recebem baixos salários ou estão desempregados e escolhem os alimentos pelo preço não pela qualidade. São as pessoas sem terra, sem teto, que se alimentam graças às cestas básicas. Os ricos têm opção de comer produtos orgânicos, cultivados sem venenos.

Os agrotóxicos e os transgênicos não servem para matar a fome do povo, e sim para matar a fome de lucro das empresas do agronegócio, a maioria delas multinacionais. Esses produtos envenenam as terras, as águas e principalmente as pessoas.

Leite materno só é fonte de vida quando as mães comem alimentos saudáveis

Nesta mobilização estamos amamentando esqueletos para denunciar a população em geral, e principalmente às mulheres, que quando comemos comida envenenada e damos o peito aos nossos filhos ao invés de alimentarmos a vida transmitimos a morte.

As doenças causadas por agrotóxicos são transmitidas de geração para geração, e um dos modos de transmissão é através do leite materno. No entanto, o mesmo governo que faz campanhas para incentivar as mulheres a amamentar, financia o agronegócio que produz a comida envenenada para o povo pobre, contaminando o leite da maioria das mães brasileiras.

A gente não quer só comida

Nós mulheres que passamos boa parte de nossas vidas envolvidas no cultivo e/ou no preparo da comida para garantir saúde à nossa família estamos nas ruas para gritar em alto e bom som que gente não quer só comida, a gente quer alimento saudável, a gente quer soberania alimentar!
Para o agronegócio o lucro está acima da vida. O agronegócio faz mal a saúde do povo e do meio ambiente! E os governos estadual e federal que financiam o agronegócio estão usando o dinheiro público para bancar o envenenamento da população pobre, a contaminação de nossas terras e águas.

Estamos em luta contra

Contra o agronegócio, um modelo de produção agrícola que se sustenta na superexploração do trabalho das pessoas, na contaminação dos alimentos, na destruição de nossas riquezas naturais. Lutamos contra o uso de recursos públicos para financiar a contaminação do povo e do meio ambiente; Estamos em luta contra todas as formas de violência contra mulheres, incluindo a imposição de um padrão alimentar que não respeita os costumes alimentares e causa muitos males à saúde.

Estamos em luta por


Soberania Alimentar - com reforma agrária, com geração de emprego e vida digna para as populações camponesas, com agricultura ecológica que respeita a diversidade de biomas e de hábitos alimentares. Os governos se dizem preocupados com a segurança alimentar, querem que as pessoas tenham várias refeições por dia. Mas tão importante quanto a quantidade da comida é a qualidade do que comemos. Por isso não basta segurança alimentar, precisamos construir a Soberania Alimentar.

Mulheres da Via Campesina, do MTD, da Intersindical e do coletivo de mulheres da UFRGS.

Porto Alegre, março de 2010.

8 de Março: já que 'estamos' no RS, indicamos a leitura do texto '100 anos de Historia de Luta pela Igualdade' (aqui), da sindicalista gaúcha Abgail Pereira (da direção nacional da CTB), que saúda o legado de Clara Zetkin (ilustrada abaixo) e de todas as mulheres que sonham com um mundo mais fraterno.(1)Via Campesina é uma organização internacional de camponeses que tem por objetivo defender os interesses desses trabalhadores. Para seber mais, clique aqui.
(2) Uma história - infelizmente exemplar - do mau relacionamento da Bunge com seus trabalhadores pode ser lida aqui.

Texto de Marko Ajdarić para o Plantão SINTRACOM, com informações de CTB, CUT RS, MAB, MST, Centro de Estudos Ambientais (CEA), Zero Hora, Capital Gaúcha, CEA, RBS TV, Jornal Minuano, Diário Regional e Gazeta do Sul (Santa Cruz do Sul), Rádio Gaúcha, Rádio Guaíba, Agência Estado, Agência Folha, Globo Rural, Canal Rural e G1