quarta-feira, 15 de julho de 2009

Sessão Solene em Homenagem aos 30 anos de Reconstrução da União Nacional dos Estudantes – UNE

O ato contou com a presença de lideranças estudantis do Brasil que já chegaram a Brasília, de parlamentares e políticos de várias gerações, como a dos que atuaram nas trincheiras da UNE antes de sua reconstrução.
Lúcia Stumpf ressaltou a honra de uma geração de 30 anos atrás que hoje assiste aos jovens que vão às ruas lutar pelo País, como os que tiveram com a UNE nas suas últimas mobilizações. "Os estudantes brasileiros farão deste congresso, o mais representativo da história da UNE, o que prova o protagonismo dos jovens da nossa geração", declarou a presidente da UNE.
Dentre os convidados que participaram da solenidade, destaque para as deputadas Alice Portugal PCdoB /BA, Maria do Rosário PT/RS, Manuela D`Avila PCdoB/RS, além do deputado José Genoíno PT/SP e o reitor da Universidade de Brasília, José Geraldo Souza Junior. O ministro dos esportes e ex-presidente da UNE em 1995, Orlando Silva, também esteve presente no ato. "Que a UNE seja cada vez mais nossa força e nossa voz", declarou o ministro.
A agenda de memória do 51º CONUNE segue com um debate na sexta-feira sobre os 30 anos da Anistia no Brasil e se encerra com a inauguração do monumento em homenagem a Honestino Guimarães, também na sexta-feira, a partir de 13h, na UnB.
Em artigo publicado em 2007 e que integra o acervo do Projeto Memória do Movimento Estudantil, a pesquisadora Angélica Muller descreve a trajetória de resistência, na década de 1970 e a histórica batalha pela reconstrução da UNE.


A década de 1970 e a reconstrução da UNE


Depois do Ato Institucional n. 5 (AI-5) em dezembro de 1968, o Movimento Estudantil (M.E.) entrou na clandestinidade, a UNE foi extinta e muitos de seus militantes acabaram se integrando em grupos guerrilheiros. Já no início da década de 1970, diante da impossibilidade de atuação legal do M.E. articulado, vários jovens começaram a trabalhar para sua reestruturação, ainda no período mais duro da repressão.
Se a geração de 1968 preconizava uma cultura política revolucionária, em que a radicalidade estava centrada na luta armada, a nova geração assumiu uma postura, a partir daquela experiência que não teve sucesso, apostando num novo tipo de luta de resistência contra o regime autoritário, assumindo como tática de enfrentamento político o "confronto pacífico". É importante salientar que essa nova proposta das esquerdas orientou-se pelo objetivo da luta pelas liberdades democráticas, mas tal posição não foi unânime.
O ressurgimento do movimento estudantil, neste momento, esteve ligado a um processo de reflexão (autocrítica) sobre a derrota (política e militar) da luta armada. O debate realizado pela maior parte da esquerda orientou-se pela proposta de uma luta de massas pela redemocratização (1).
Na primeira metade da década de 70, como aponta Mirza Pellicciotta (1997), as atividades se desenvolveram principalmente no âmbito cultural e na formatação das Executivas de Cursos e formação dos Diretórios Centrais Livres (DCE’s), caso da Universidade de São Paulo, com o DCE Alexandre Vanucchi Leme (2).
A partir disso, sentiu-se a necessidade de rearticular o movimento através das suas entidades representativas: as Uniões Estaduais dos Estudantes (UEE’s) e a União Nacional dos Estudantes (UNE).
Entre 1976 e 1978 quatro reuniões preparatórias foram propostas com intuito de reconstruir a UNE. Os Encontros Nacionais de Estudantes (ENE’s) aconteceram a partir da articulação interna das forças políticas do M.E., articulação esta que teve como desdobramentos as grandes passeatas de 1977 (3).
O ano de 1977 pode ser encarado como marco para o processo de redemocratização do país. E, mais uma vez, o movimento estudantil foi pioneiro nesse processo. Apesar dos movimentos sociais já estarem se articulando nesse momento como, principalmente, o movimento sindical e as pastorais, foi o movimento estudantil o primeiro a ir para as ruas lutar pelas liberdades democráticas e exigir anistia aos presos políticos.
Este também foi o ano da realização do III ENE (Encontro Nacional dos Estudantes). O Encontro que deveria ter acontecido na Faculdade de Medicina da UFMG foi impedido pelos militares e, depois de algumas tentativas, ocorreu na PUC São Paulo, causando um acontecimento bastante conhecido na história do ME: a invasão da universidade pelos policiais comandados por Erasmo Dias, a mando do governador Paulo Egydio Martins, que fora diretor da UNE na década de 1950. Ainda nesse ano, foi reconstruída a UEE/SP e a comissão Pró-UNE. A montagem desta comissão redundou na realização do XXXI Congresso da entidade na cidade de Salvador em maio de 1979.
Coube ao presidente da DCE da UFBA, Rui César Costa, encontrar um local para o Congresso. Rui César pediu uma audiência com então governador da Bahia, Antônio Carlos Magalhães, que cedeu o Centro de Convenções e garantiu a viabilidade do Congresso.
Depois de muitos sacrifícios e alguns ônibus de estudantes retornando para suas casas, barrados pela polícia, o XXXI Congresso da UNE, que contava com cerca de 10 mil estudantes, foi aberto pelo seu ex-presidente de 1964, José Serra, em 29 de maio de 1979 (foto acima).
Foram aprovados um novo estatuto, uma carta de princípios e uma pauta de lutas a serem levantadas pela entidade, dentre elas: "contra o ensino pago; por mais verbas para educação; pela anistia ampla, geral e irrestrita e contra a devastação da Amazônia.".
A grande polêmica, sem dúvida, ficou no encaminhamento para a eleição da nova diretoria. Depois de muita polarização de idéias, acabou vencendo a proposta de se eleger no Congresso uma diretoria provisória formada por um conselho de entidades e no segundo semestre, realizar, pela primeira vez, eleições diretas para diretoria da UNE.
Mais de 350 mil universitários foram às urnas eleger o presidente de sua entidade. A chapa vencedora foi encabeçada pelo próprio Rui César, que ganhou destaque acentuado pelo seu trabalho na coordenação do Congresso.
Assim, a entidade máxima dos estudantes brasileiros estava reconstruída. A UNE estava pronta novamente para jogar papel nos grandes acontecimentos do cenário político nacional lutando por liberdades democráticas e pelas Diretas Já!
texto publicado por Angélica Müller (2007) - doutoranda em História Social pela USP e coordenadora-técnica do Projeto Memória do Movimento Estudantil

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